Pedro e Sónia – um circuito lógico que os levou à excelência

Terminamos este ciclo de reportagens aos jovens que participaram no Campeonato Europeu das Profissões com mais uma dupla de excelência. Pedro Simões e Sónia Caetano, ambos do CENFIM – núcleo de Torres Vedras, representaram Portugal no EuroSkills, Budapeste 2018, na profissão de Mecatrónica Industrial. A competir com 13 equipas de vários países europeus, regressaram a casa com uma medalha de excelência e a WorldSkills Portugal falou com eles depois desta competição.

 

Pedro Simões, de 19 anos, define-se como alguém que coloca o máximo de empenho e dedicação naquilo que faz.

WorldSkills Portugal: Qual a sensação de fazeres parte de um grupo de excelência a nível europeu?

Pedro Simões: A sensação é ótima! Sinto-me bem com os resultados, pois superei-me a mim mesmo e consegui ver o fruto de todo o esforço e dedicação realizado até ao campeonato.

 

 WorldSkills Portugal: Como é que se encaixa, na vida de um jovem de 19 anos, a preparação para uma competição internacional?

Pedro Simões: Neste momento não estou a trabalhar, mas enquanto estava conseguia conciliar o trabalho com os treinos, pois trabalhava em horário laboral e treinava em pós-laboral. Atualmente estou a treinar a tempo inteiro.  A motivação vem da vontade de vencer a cada dia que passa. Quem me apoia e dá força é a minha família, a minha namorada e a minha formadora/jurada.

 

 WorldSkills Portugal: Como descobriste a paixão por esta profissão?

Pedro Simões: Foi desde criança. Gostava de fazer experiências e cheguei a criar o meu próprio brinquedo. Foi assim que construí um carro telecomandado. Depois decidi seguir um curso profissional após terminar o 9.º ano pois sempre fui um jovem que gosta de ver as coisas a acontecer na prática e que não se identifica muito com a componente teórica. E assim, decidi seguir a área pela qual tenho interesse desde criança – mecatrónica no ramo de automação industrial.

 

 WorldSkills Portugal: O que é para ti a WorldSkills? Os campeonatos das profissões?

Pedro Simões: Empenho, dedicação, competência.

 

A Sónia Caetano, de 22 anos, tem o lema “Pelo sonho é que vamos!”.

WorldSkills Portugal: Qual a sensação de fazeres parte de um grupo de excelência a nível europeu?

Sónia Caetano: É um prazer fazer parte de uma equipa com a mesma paixão que eu. Tem sido muito gratificante e enriquecedor.

 

 WorldSkills Portugal: Uma vez que já estás a trabalhar, como arranjas tempo para treinar? 

Sónia Caetano: Neste momento trabalho numa empresa multinacional que produz máquinas de café, a Eugster & Frismag. Em horário pós-laboral estudo e treino e tem sido muito fácil conciliar os horários. Neste aspeto, a empresa foi muito acessível. Entre o horário de trabalho e o treino ainda tenho algum tempo para mim. Claro que comecei a dedicar mais tempo ao curso e aos treinos. Foi um investimento de tempo positivo, recompensado por uma medalha de excelência.

 

 WorldSkills Portugal: O que ou quem te motiva no caminho de preparação para o campeonato mundial?

Sónia Caetano: O que me motiva é simplesmente a exigência do mercado de trabalho. A cada segundo a tecnologia evoluiu e todos os profissionais têm de acompanhar essa evolução, eu tento acompanhar através da formação e dos campeonatos.

Quem me motiva são duas pessoas fantásticas, que me têm ajudado desde o princípio, o Fábio e o Pedro*, a eles tenho a agradecer muito, em todos os aspetos.

(*) O Pedro e o Fábio são os dois antecessores do Pedro e da Sónia e representaram Portugal no Campeonato Mundial das Profissões, Abu Dhabi 2017. Para além disso, a Sónia e o Fábio são primos.

 

 WorldSkills Portugal: Quando e porque é que decidiste seguir um curso profissional?

Sónia Caetano: Entrei num curso profissional em 2014, para um centro de formação de excelência, o CENFIM. É e será sempre um prazer frequentar este centro. Aprendi muitas coisas que me vão ser úteis no meu futuro profissional. Aconselho todos a seguir o ensino profissional porque é sem dúvida uma mais valia.

 

 WorldSkills Portugal: O que significa para ti os campeonatos das profissões?

Sónia Caetano: Trabalho, trabalho e trabalho. Para que no fim possamos receber a medalha e orgulharmo-nos de nós próprios.

 

 WorldSkills Portugal: E a ti? O que te define?

Sónia Caetano: A família é o mais importante da minha vida. Tenho muitos objetivos pessoais e profissionais por realizar. “Pelo sonho é que vamos!”

 

Quer na preparação para Budapeste quer para Kazan, o Pedro e a Sónia contam com a formadora e jurada internacional Susana Martins, também ela do CENFIM de Torres Vedras que partilhou connosco como foi o percurso até aqui e os preparativos já em curso para a participação no campeonato mundial em agosto de 2019.

A jurada Susana Martins com o Pedro e com a Sónia, numa das semanas de estágio

WorldSkills Portugal: Ser jurada internacional é uma função exigente mas compensadora. Como te preparas?

Susana Martins: A função de jurada internacional acarreta uma grande responsabilidade que no meu caso é dupla, isto porque, para além de ser a jurada internacional de Portugal na profissão, sou também a preparadora/treinadora a tempo inteiro da equipa de Mecatrónica.

Dado o nível a que está a competição, esta função exige de nós o saber intuir mais além do que poderá vir a ser a prova e, assim, articular os treinos neste sentido para que os concorrentes sigam o mais bem preparados possível. A elaboração de um eficiente cronograma de treino e a preparação das atividades e de provas de simulação exigem que também tenha de estar constantemente a par dos mais avançados conhecimentos técnicos para que os mesmos sejam trabalhados em treino.

Na outra vertente, enquanto jurada internacional, é importante conhecer todos os protocolos, regras e conhecimentos técnicos da competição, bem como a interação com a equipa de jurados internacionais na área nos fóruns de discussão e grupos de trabalho que antecedem as competições.

 

WorldSkills Portugal: O que tens em consideração quando desenhas o plano de treino para os concorrentes?

Susana Martins: Desde logo, os conhecimentos técnicos dos formandos no ponto de partida para o novo ciclo e os objetivos a atingir. É importante fazer uma análise das competências e conhecimentos técnicos de cada elemento desta dupla, pois cada um tem uma personalidade e papéis diferentes enquanto elementos de uma equipa numa competição. Com isto, é importante delinear num plano de treino as tarefas individuais de cada um dos jovens e as tarefas em equipa, tendo em atenção a evolução lógica do conhecimento e o trabalho necessário ao cumprimento dos nossos objetivos.

 

WorldSkills Portugal: Os jovens preparados por ti conquistaram a medalha de excelência no EuroSkills, Budapeste 2018. A que sabe essa medalha?

Susana Martins: A medalha de Excelência obtida no Euroskills em Budapeste é, de certa forma, o reflexo de muitas horas de preparação e de treino. É assim, mais do que uma medalha, é a compensação do nosso trabalho em equipa, e ficar com menos não iria refletir a nossa dedicação.

 

WorldSkills Portugal: Quais são os próximos passos?

Susana MartinsOs próximos passos foram planeados de acordo com as nossas falhas enquanto equipa no último campeonato e com o foco no nosso próximo objetivo, o pódio no campeonato mundial. Assim, estão a ser aumentadas em dobro a exigência e a preparação ao nível técnico, bem como o número de horas de treino e com novos equipamentos conforme o esperado no mundial. Também o trabalho individual de gestão de expetativas e de preparação emocional do concorrente está a ser tido em atenção, bem como o estudo da língua inglesa.

 

O CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica tem já uma longa tradição de participação nos campeonatos das profissões. Em Budapeste participou com 6 concorrentes em 5 profissões e arrecadou 2 medalhas de bronze e 3 medalhas de excelência.

“Considerando que a maioria dos campeões nacionais são ex-formandos dos cursos de aprendizagem e já estão a trabalhar quando começam a preparação para os campeonatos, o treino é uma conjugação entre o posto de trabalho, preparação em horário pós-laboral, na qual se inclui muitas vezes formação complementar e treino intenso aos fins de semana, contando com a compreensão das empresas através de períodos de dispensa nas semanas de preparação que decorrem no IEFP. Alguns dos formandos/concorrentes também frequentam Cursos de Especialização Tecnológica – CET, em horário pós-laboral, refletindo o conceito do treino como uma conjugação de diversos vetores, nomeadamente; atividade profissional, horários de formação e vida pessoal.” refere Vitor Dias, Diretor do Departamento de Formação do CENFIM. “No CENFIM encaramos os campeonatos como uma ferramenta complementar da Formação Profissional, integrando neles as vertentes técnicas, profissionais pedagógicas e pessoais.” 

 

Em Budapeste, o Pedro e a Sónia competiram com jovens da Alemanha, Áustria, Cazaquistão, Eslovénia, Espanha, Holanda, Hungria, Lituânia, Noruega, Polónia, Reino Unido, Rússia, Suécia, numa das provas mais renhidas e competitivas do EuroSkills 2018.

O espaço onde decorreu a prova de mecatrónica no EuroSkills, Budapeste 2018, com os dois concorrentes em pano de fundo

O Técnico de Mecatrónica Industrial é o profissional que efetua a instalação, manutenção, reparação e adaptação de equipamentos diversos, nas áreas de eletricidade, eletrónica, controlo automático, robótica e mecânica assegurando a otimização do seu funcionamento, respeitando as normas de segurança de pessoas e equipamentos.

No âmbito da sua atividade, efetua tarefas como:

  • instalação de equipamentos e sistemas de eletrónica, controlo automático, robótica e mecânica, utilizando as tecnologias, técnicas e instrumentos adequados, a fim de assegurar o seu correto funcionamento, respeitando as normas de segurança de pessoas e equipamentos;
  • manutenção preventiva e corretiva em equipamentos e sistemas de eletrónica, controlo automático, robótica e mecânica, utilizando tecnologias, técnicas e instrumentos adequados, a fim de otimizar o seu funcionamento, assegurando a qualidade do serviço prestado, respeitando as normas de segurança de pessoas e equipamentos.

Em contexto de competição é isto que acontece numa prova de Mecatrónica Industrial.