O Técnico de Eletromecânica Industrial é o profissional que desenvolve as atividades relacionadas com a instalação, regulação, programação, manutenção, reparação e ensaio, em equipamentos industriais e respetivos componentes ou sistemas mecânicos, elétricos, eletromecânicos, pneumáticos, hidráulicos e de automação de acordo com as especificações técnicas de segurança e qualidade definidas.
Numa prova internacional é este o ambiente que se vive.
O concorrente nesta profissão é Rui Martins, de 18 anos, oriundo do CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica, núcleo da Trofa.
Nós estivemos à conversa com ele.
WorldSkills Portugal: Teres ganho a medalha de ouro no campeonato nacional e ires representar Portugal no campeonato europeu mudou as tuas rotinas?
Rui Martins: Acabou por não mudar muito porque em maio acabei o curso de aprendizagem de Técnico de Manutenção Industrial e depois comecei a vir treinar a tempo inteiro. Para além disso, estive a estudar para os exames de acesso ao ensino superior no curso de Engenharia Eletrotécnica e por isso tinha o tempo muito ocupado.
WorldSkills Portugal: Como tem sido a preparação?
Rui Martins: Treino cerca de 7 a 8 horas por dia, mas há dias que são 10 horas, para conseguir conciliar tudo. De forma geral, sinto que estou a progredir bem e, até do ponto de vista pessoal, tem havido um grande enriquecimento.
WorldSkills Portugal: Como é que a tua família tem acompanhado este percurso?
Rui Martins: A minha família está orgulhosa, claro. Foram eles que me incentivaram a seguir pela via profissional. Eu sempre quis seguir pelas áreas da engenharia e, como sempre fui bom aluno, sabia que se seguisse pela via regular também me poderia destacar, mas vim visitar o CENFIM e ao falar com várias pessoas tomei esta decisão.
WorldSkills Portugal: Quais são as tuas expetativas para o europeu?
Rui Martins: Adquirir novos conhecimentos, conhecer os meus limites. Uma coisa é o campeonato nacional outra coisa é um campeonato internacional, e estou curioso para saber como me dou em ambiente de alta competição e, assim, conhecer-me melhor.
WorldSkills Portugal: Que conselhos darias a um jovem que esteja com dúvidas sobre o percurso a seguir?
Rui Martins: É uma opinião muito pessoal, acho que cada pessoa deve fazer as suas escolhas, mas sem dúvida que para quem queira ter mais opções profissionais, esta é melhor via e aprende-se muito.
WorldSkills Portugal: E perspetivas futuras para o ingresso no mercado de trabalho?
Rui Martins: Se não estivesse em preparação já tinha emprego. Esta é uma área com muita procura. A manutenção industrial é toda a parte de manutenção de máquinas e há máquinas em todos os setores de atividade, na indústria têxtil, alimentar, etc., ou seja, tudo o que tenha máquinas é uma possibilidade!
O Rui em flash:
Como nasceu o teu interesse por esta profissão? O meu formador teve um papel fundamental. Falou-me sobre os campeonatos (o CENFIM Skills, uma competição interna que se realiza na entidade formadora onde estudo) e de ex-formandos que foram concorrentes nesta área.
Que palavra ou palavras usarias para definir os campeonatos das profissões? Garra, ambição, experiência.
E a ti, o que te define? Sou preocupado, perfeccionista, autónomo, tímido e ansioso.
Para além do Rui, conversámos com Adelino Santos, formador no CENFIM e, que no EuroSkills Budapeste 2018, assume funções de Presidente de Júri da profissão de Controlo Industrial.
WorldSkills Portugal: Adelino, enquanto formador do CENFIM, jurado internacional e preparador do Rui Martins, quais diria que são as mais valias para o CENFIM com este processo de participação no campeonato europeu?
Adelino Santos: Divido as mais valias em 2 partes: uma para os jovens concorrentes, que com este processo adquirem uma experiência de vida e profissional muito importante – só o facto de visitarem outro país, verem como os outros trabalham para chegar ao mesmo resultado é de grande importância para eles. Depois, para o CENFIM, o facto de ter formadores envolvidos no processo, significa que esses formadores têm de estar muito bem preparados, a realizar um estudo e preparação técnicos permanentes de forma a acompanhar as tendências do mercado e da profissão, ou seja, estamos permanentemente a melhorar as nossas competências.
WorldSkills Portugal: Como são organizados os dias de treino do Rui?
Adelino Santos: Uma das principais dificuldades da prova é concluí-la dentro do tempo disponível. Por isso, enquanto a prova não foi divulgada, trabalhámos à tarefa, ou seja, por exemplo, sabemos que independentemente da prova que for aplicada, vai existir um quadro elétrico que tem de ser colocado, fixado e eletrificado, por isso o Rui tem treinado essa tarefa do ponto de vista da destreza física e da rapidez, bem como outras com este mesmo objetivo. Temos depois toda a parte mais cognitiva da prova, como os softwares para a programação e desenvolvimento – fizemos um estudo em que trabalhámos todas as competências que saíram nas competições anteriores e onde o Rui teve de programar tudo, até porque a prova de programação é surpresa e assim ele fica melhor preparado para tudo o que lhe possa ser apresentado em Budapeste.
Outra das atividades que faço com os concorrentes é, assim que recebo uma prova, faço a montagem completa. Isto permite que eles fiquem com a noção que uma prova que tem como tempo limite 12 horas, chega a demorar 20 horas para ser executada na primeira tentativa, levando-os a perceber o quanto têm de trabalhar para reduzir o tempo para 12 horas!
WorldSkills Portugal: O CENFIM mantém o contacto com os ex-concorrentes?
Adelino Santos: Claro que sim! Tentamos sempre que os ex-concorrentes interajam com os atuais. O José Pereira, nosso concorrente do ciclo anterior, já esteve com o Rui a dar dicas e tirar dúvidas.
E depois, é natural que se crie uma ligação de maior proximidade com estes jovens que passam pelos campeonatos, porque passamos muito tempo juntos. Acabamos por apoiar na integração no mercado de trabalho e acompanhá-los durante os primeiros tempos da sua atividade profissional.
WorldSkills Portugal: Como avalia a empregabilidade nesta área?
Adelino Santos: Não temos problemas de empregabilidade. O que acontece é algo diferente. As empresas têm a ideia errada de que a área de automatização de máquinas deve ser assegurada pelo corpo de engenharia e não reconhecem a um jovem que tem uma qualificação de nível 4 essa competência. Mas depois acontece um fenómeno muito interessante: com o treino intensivo de preparação para os campeonatos os jovens atingem essa competência e esse nível! E felizmente, muitas empresas já o reconheceram e têm vindo a procurar-nos nesse sentido. Esta é mais uma das grandes vantagens dos campeonatos das profissões, o reconhecimento da competência que lhe está associada.
O Rui vai competir com jovens mais 8 jovens dos seguintes países: Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Dinamarca, Rússia, Espanha e Suécia.