Depois de ter ganho a medalha de ouro no Campeonato Nacional das Profissões, SkillsPortugal, Beja-Alentejo 2018, Rui Carvalho, de 18 anos, conquistou a medalha de bronze no Campeonato Europeu e brandiu a bandeira de Portugal no palco da Arena de Budapeste. Vamos conhecer um pouco mais do percurso de excelência deste jovem, que começou com um curso de aprendizagem de Técnico de Maquinação e Programação CNC no CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica.
WorldSkills Portugal: Foste um dos jovens portugueses que subiu ao pódio no Campeonato Europeu das Profissões. Vamos voltar atrás no tempo até ao dia da cerimónia de encerramento do EuroSkills, Budapeste 2018. Descreve-nos o momento em que anunciaram a medalha de bronze para Portugal e o que sentiste quando subiste ao palco.
Rui Carvalho: Estávamos, todos os participantes portugueses, na plateia do “Budapeste Sports Arena” a assistir à entrega dos prémios, profissão a profissão. Chegou o momento da classificação da minha profissão, Fresagem CNC. Fiquei nervoso e de seguida ouço a apresentadora a chamar por Portugal! Arrepiei-me, dirigi-me para o pódio, em cima do palco, e enquanto recebia a medalha de bronze, o meu sentimento foi de “missão cumprida”. Toda a minha dedicação, todas as pessoas que me ajudaram e apoiaram e todo o tempo de preparação tinha dado frutos!
WorldSkills Portugal: Neste momento, o que fazes?
Rui Carvalho: Neste momento tenho um contrato com o centro de formação profissional onde fiz o meu curso, o CENFIM, onde passo o tempo a treinar, aprendo novas técnicas e corrijo alguns dos meus erros para atingir o grande objetivo que se avizinha, o WorldSkills Kazan 2019.
WorldSkills Portugal: E como encaras a participação no campeonato mundial?
Rui Carvalho: No campeonato mundial vão estar concorrentes de todo o mundo. Cada concorrente tem o seu método de trabalho e a sua forma de lidar com o desafio. Compete-me a mim aperfeiçoar os meus métodos, para aos poucos atingir os objetivos.
WorldSkills Portugal: Se olhares para trás, no teu percurso, o que achas que mais contribuiu para teres chegado até aqui?
Rui Carvalho: Chegar até aqui não foi simples. Sempre me empenhei e foquei nos meus objetivos, não foi só o trabalho no centro de formação, mas também muito trabalho em casa, tendo em conta os recursos disponíveis, tentando perceber o porquê de algumas estratégias não funcionarem. Como resultado, aos poucos fui criando métodos de execução que para mim fossem fiáveis.
WorldSkills Portugal: Quando e porque é que decidiste seguir um curso profissional?
Rui Carvalho: Esta profissão sempre me fascinou, apesar de nos dias de hoje não ser uma profissão tão conhecida como esteticismo ou cabeleireiro. O meu irmão já trabalha nesta área há uns anos e foi-me transmitindo algumas noções e eu fui-me apaixonando pela área. Ferramentas a cortar materiais duros, como que se de manteiga se tratasse, máquinas que, através da programação, trabalham sozinhas e fazem peças bastantes complexas! Ainda hoje fico a pensar como a tecnologia evoluiu e faz com que tudo isto seja uma realidade nos dias de hoje.
WorldSkills Portugal: Que palavra ou palavras usarias para definir os campeonatos das profissões?
Rui Carvalho: Experiência, aprendizagem.
WorldSkills Portugal: E a ti, o que te define?
Rui Carvalho: Sou persistente e perfeccionista no trabalho a realizar.
Quer na preparação para o campeonato europeu quer para o campeonato mundial, o Rui Carvalho foi (e está a ser) acompanhado por Zacarias Lebre, formador no IEFP – Centro de Emprego e Formação Profissional de Águeda e sócio da GrandeSoft – a representante em Portugal da Mastercam. Nós falámos com ele sobre as funções de jurado e sobre a preparação do Rui para as competições:
WorldSkills Portugal: Quantas vezes já participou nas fases internacionais dos campeonatos das profissões? Que tipo de preparação essa função requer?
Zacarias Lebre: O meu primeiro contacto internacional com os campeonatos das profissões foi em 2013 no Campeonato do Mundo, WorldSkills Leipzig, como visitante, de forma a acompanhar o concorrente Igor Ferreira que tinha sido campeão nacional em Faro 2012 e medalhado com bronze no Campeonato Europeu, Spa-Francorchamps 2012. Como era a primeira vez que tinha um formando numa competição mundial decidi ir ver como é que era. No ciclo seguinte, que iniciou com o campeonato nacional no Porto 2014, ganhou o Tiago Conceição e foi então que fui convidado pelo Delegado Técnico, à data Armando Carvalho, para assumir as funções de jurado internacional da profissão de fresagem CNC. Desde essa data, participei nas competições europeias Lille 2014, Gotemburgo 2016 e recentemente Budapeste 2018, e nas mundiais São Paulo 2015 e Abu Dhabi 2017, ou seja, já participei como jurado em 5 competições internacionais. Relativamente à preparação para desempenhar essa função, foi necessário estudar as regras e detalhes técnicos da competição, não só para o desempenho das tarefas durante a competição, mas também para transmitir a informação necessária ao concorrente durante a preparação.
WorldSkills Portugal: E em termos de benefícios, mais-valias? O que se ganha com a assunção dessas funções?
Zacarias Lebre: Todas as atividades pelas quais fiquei responsável ao aceitar estas funções, desde a colaboração na organização da competição nacional até à preparação e participação nas competições internacionais, são desafios que trazem novos conhecimentos. Assim como a necessidade de melhoria constante do processo a aperfeiçoar técnicas de trabalho para atingir bons resultados nas provas, este trabalho acaba sempre por ser uma mais valia para todas as atividades de formação em que estou envolvido. O contacto com profissionais do ensino e da indústria de outros países permite, ainda, conhecer um pouco de outras culturas e aprender diferentes técnicas de trabalho. Mas os amigos e a rede de contactos que se cria é o melhor benefício de todos.
WorldSkills Portugal: Quando faz um plano de treino para os concorrentes, quais são as principais preocupações?
Zacarias Lebre: As preocupações começam com a motivação e disponibilidade do concorrente para treinar intensivamente para poder atingir resultados de excelência. De seguida vem a parte técnica, em é preciso diagnosticar quais as atividades e tarefas que precisam de ser melhoradas para intervir com explicações e exemplos de aplicação para, durante o treino, serem aperfeiçoadas. Fica assim estabelecida uma ponte de confiança com o concorrente que permite depois intervir durante a competição, quando é preciso tomar decisões no planeamento das tarefas ou quaisquer outras situações que possam surgir. O estado psicológico do concorrente também é muito importante porque esse fator em competição é tão ou mais importante que o domínio técnico.
WorldSkills Portugal: O Rui Carvalho veio de Budapeste com uma medalha de bronze. O que significa isso para si enquanto jurado que o acompanhou?
Zacarias Lebre: O resultado do Rui veio confirmar o seu bom desempenho na preparação. Este resultado reflete as capacidades do Rui e a dedicação e empenho dele e de todos os que contribuíram para a sua preparação. Mostrou, também, que ainda nos faltam dar passos importantes na preparação para obter melhores resultados, que só serão possíveis com concorrentes com esta qualidade e com treino intensivo em equipamento semelhante ao da competição. Para mim, como jurado que planeou a preparação e a acompanhou com a colaboração direta dos formadores/preparadores Marco Silva e Vera Alvéolos, formadores do CENFIM, significa termos conseguido o objetivo, que era levar a Bandeira Nacional ao pódio porque isso demonstra que estamos ao nível do que melhor se faz na Europa na formação técnica de jovens.
WorldSkills Portugal: Já está a pensar no mundial?
Zacarias Lebre: A pensar e a trabalhar no plano de preparação com atividades para melhorar o desempenho do Rui, tendo em conta os aspetos menos conseguidos no Europeu. Esta preparação para o próximo nível requer mais situações de competição e, nesse sentido, o nosso Delegado técnico, Carlos Fonseca, aceitou o convite para a participação no campeonato nacional Francês que vai permitir ao Rui estar em contato com equipamento semelhante ao que vai ser usado no WorldSkills Kazan 2019. Como faltam menos de 300 dias temos de os aproveitar bem.
O CENFIM, o centro de formação de onde o Rui é oriundo, tem já uma longa tradição de bons resultados em campeonatos internacionais de profissões, refletidos em medalhas de ouro, prata e bronze, bem como “Best of Nation” e excelência.
“O CENFIM já tem um palmarés internacional (Europeu e Mundial) que inclui 2 medalhas de ouro, 5 de prata, 5 de bronze, 22 de excelência e 3 “best of nation”.” refere Vitor Dias, Diretor do Departamento de Formação “Este palmarés significa responsabilidade acrescida para com a Formação Profissional em Portugal, profunda satisfação pela dignidade com que os seus profissionais se entregam a este desafio e naturalmente o maior orgulho nos seus campeões. Os resultados dos campeonatos são um excelente cartão-de-visita no âmbito do recrutamento e seleção de jovens (quem não gosta de pertencer a uma equipa “ganhadora”?).”
O Técnico de Maquinação e Programação CNC é o profissional que programa e opera máquinas ferramentas com comando numérico computorizado (CNC), destinadas a trabalhar peças metálicas.
No âmbito da sua atividade, este profissional desenvolve atividades como:
- Elaborar o programa de fabrico a partir do desenho técnico;
- Regular, operar e controlar o processo de maquinação em máquinas ferramentas com CNC, respeitando as normas de segurança e higiene e de proteção ambiental aplicáveis;
- Efetuar o controlo dimensional de formas, estados de superfície e outras características das peças durante as diversas fases de fabrico, de acordo com as especificações técnicas
Em contexto de competição é isto que acontece numa prova de CNC (aceda ao link para ser direcionado para o YouTube).
Em Budapeste, o Rui competiu com concorrentes da Alemanha, Áustria (vencedor da medalha de prata), Bélgica, Croácia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Reino Unido, Rússia (que conquistou a medalha de ouro) e Suécia.